Uso de Zeólitas para tratamento de água e efluentes – Parte 2

O sistema da ETA convencional é normalmente composto por pré-cloração, coagulação e floculação mediante uso de dosagem de sais de ferro ou alumínio, sedimentação, filtração e adição de químicos (correção de pH, cloro e flúor). A zeólita natural pode ser emprega substituído os tradicionais filtros de areia.

Martins Neto e Di Serio (2015) realizaram uma pesquisa onde principal objetivo foi avaliar em escala piloto o desempenho do meio filtrante com uso de zeólita natural, cujas características são apresentadas na tabela 2, quanto à redução da turbidez a fim de obter valores abaixo de 0,5 NTU, conforme estabelece o Ministério da Saúde em sua Portaria Nº 2914 de Dezembro de 2011.

Tabela  2 – Principais características da zeólita natural granular

Parâmetro Valor Unidade
Densidade aparente 0.98 kg/L
Granulometria 0.4 a 1.0 mm
Coeficiente de uniformidade 1.60
Diâmetro efetivo 0.66 mm
Porosidade interna 0,45

Fonte: Martins Neto e Di Serio (2015)

O estudo foi efetuado em municipal localizada no litoral norte de São Paulo, esta ETA é composto por pré-cloração, Coagulação e Floculação mediante uso de dosagem de Sulfato de Alumínio, Flotação por ar dissolvido, seguido de Filtração e Cloração (via cloro gás).

Figura 5 – Esquema básico da estação de tratamento de água. Fonte: Martins Neto e Di Serio (2015).

Devido ao arranjo do sistema de floto-filtração, o filtro da ETA opera com pressão de 2,5 MCA aproximadamente constante por toda a carreira de filtração. Já a unidade piloto opera com pressão inicial de 0.5 MCA, sendo a perda de carga máxima admitida 2,0 MCA (devido a características do equipamento).

A água empregada para efetuar a retrolavagem da unidade piloto é a mesma utilizada nos filtros da ETA (água final do processo). As vazões de retrolavagem adotadas para a piloto foram de 3,54L/min (25 m³/m².h) à 4,96 L/min (35 m³/m².h), sem a utilização de ar comprimido.

Figura 6 – Resultados da performance da zeólita natural utilizada na filtração convencional de água decantada em filtro tipo aberto. Fonte: Martins Neto e Di Serio (2015).

 

Ainda segundo os autores a zeólita natural apresente excelente capacidade de filtração, operando por mais de 30 horas e produzindo água com turbidez inferior a 0.5 NTU por mais de 30 de operação, mesmo sob picos de entrada. Outro ponto interessante e da não necessidade de retrolavagem com ar para limpeza do leito.

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Uso de Zeólitas para tratamento de água e efluentes – Parte 1

A zeólitas foram descritas pela primeira vez em 1756 por Freiherr Axel Frederick Cronstedt, um mineralogista sueco, que nomeou o mineral a partir das palavras gregas zéo (ferver) e líthos (pedra), uma alusão à sua característica peculiar de borbulhar quando imerso em água.

Este exclusivo mineral natural possui estrutura cristalina tri-dimensional infinita, que formam cavidades internar são ocupados por íons e moléculas de água com grande liberdade de movimento. Esta característica permite o intercâmbio catiônico e a desidratação reversível da rede, isto por que a água não afeta a estabilidade estrutural e pode ser eliminada, pois a zeólita opera como uma peneira molecular.

 

Figura 2 - Estrutura da zeólita natural Fonte: Martins Neto e Di Serio (2015)

Figura 2 – Estrutura da zeólita natural
Fonte: Martins Neto e Di Serio (2015)

 

De acordo com a origem da zeólita sua composição química pode apresentar variação. A tabela 1 apresenta os principais tipos de zeólita, recebendo destaque para as zeólitas do tipo clinoptilolita que são mais empregadas para o tratamento de água.

Embora a zeólita possua a capacidade de troca catiônica, existe uma ordem de seleção entre os metais em função do raio atômico e peso molecular, de modo geral a capacidade total de troca é de até 1,57 mEq.g-1. A ordem de seletividade da zeólita natural tipo clinoptilolita, segundo Martins Neto e Di Serio (2015) para os principais metais é a seguinte: Cs > Rb > K > NH4+ > Ba > Sr > Na > Fe > Al > Mg > Li .

Embora o Nitrogênio amoniacal seja uma molécula, este possui carga catiônica e diâmetro compatível com os metais, desse modo a zeólita também é capaz de captura-lo.

Devido a estrutura tridimensional, a zeólita clinoptilolita apresenta algumas propriedades físicas interessantes, como dureza média de 4 a 5 mohs, área superficial de 40 a 60 m².g-1 e densidade aparente de 0,90 a 0,98 kg.L-1. A associação de dureza elevada, grande área superficial e baixa densidade aparente, fazem da zeólita clinoptilolita um excelente meio filtrante granular, capaz de reter partículas com até 5,0 µm de diâmetro médio, o que lhe garante elevada eficiência na remoção de sólidos em suspensão que promovem turbidez e cor em águas naturais. A título comparativos, materiais como areia e carvão antracitoso captura partículas com diâmetro médio de até 40 e 20 µm, respectivamente. Martins Neto e Di Serio (2015)

Além dessas propriedades naturais, pode-se efetuar o beneficiamento para aumentar as capacidades especificas da zeólita, como a cobertura da estrutura da zeólita natural com óxido metálico, visando a remoção de Ferro, Manganês e até mesmo Arsênio, conforme descrevem Mohammed Al-Anbera e Zaid A. Al-Anberb (2008), Silvio R. Taffarel e Jorge Rubio (2010) e Lucy M. Camachoa et. al. (2011),

A captura de sólidos dentro do filtro ocorre principalmente pelo mecanismo de retenção mecânica de sólidos devido a sobreposição de camadas granulares que proporcionam poros de captura ao longo do leito, aja vista que a filtração possui sentido vertical descendente sobre pressão mínima de 0.5 MCA e 1.0 kgf.cm² para filtro do tipo aberto e fechado respectivamente. Além do efeito mecânico de retenção dos sólidos, há também um pequeno efeito eletrostático entre os sólidos suspensos e o leito de zeólita, que também contribui para o processo de filtração.

Comparada com outros meios filtrantes convencionais como areia e quartzo, a zeólita natural clinoptilolita, apresenta maior capacidade de retenção de sólidos utilizando cerca de 30% e 50% menos material no filtro respectivamente, em função da menor densidade aparente. Em função da maior porosidade e área superficial a perda de carga no filtro também é menor, desse modo a carreira de filtração também é superior, conforme demonstrou o estudo comparativo Sidney Gobbi (2010), apresentado resumidamente nas figuras 5 e 6.

No estudo realizado por Gobbi, Sidnei (2010) também foi avaliado o volume de água para necessário para a retrolavagem dos leitos de zeólita e areia, a pesquisa concluiu que foi necessário cerca de 1545 L de água para o filtro de areia e apenas 390 L para o filtro de zeólita.

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